terça-feira, 29 de setembro de 2015

don't come through, baby, you never do

o corpo sente quando chegas
e sente-se assim que vais

e quando acordo de madrugada
dou por mim a gemer por ti
no sussurro da tua presença
que cessa de alguma vez aparecer

o meu corpo sabe quando chegas
e sabe perder-te o sabor sempre que vais


a ponta da minha língua arde por sal
o sangue escorre-me delinquente pelas veias
e o suor percorre-me abandonado
nesta pele onde os teus dedos só tocam
nos sítios errados





patient, fine, balanced, kind

Enquanto caminho e na calçada chuto pedras, penso na espera à qual me tenho entregado e como os meses tanto soam a anos, como a segundos. De cada vez que me controlo mais um pouco, me aguento um tanto mais, sinto uma proximidade infantil a ti. A vida consegue surpreender-nos. Tenho aprendido a dor de resistir a voltar ao passado, só pelo facto de o passado ser a resposta mais fácil. Recusar este passado tem-me levado muitas horas. Sim, porque perco horas a pensar nele, a refutá-lo, a enumerar razões pelas quais o devo negar sempre. Costuma resultar, apesar de custar.
Colocar a chave na porta de casa sabe a frustração. Todos os dias estou um passo mais perto e outro passo mais longe, e frequentemente me pergunto por que continuo à espera de algo que nem eu sei se quero. Mas aquilo a que chamamos de "instinto" grita-me a toda a hora. Resigno-me a esta existência onde a ideia de ti se torna na minha utopia. E, no entanto, sinto-me em paz no meio desta incerteza e caos, sempre no meio da esperança infundada de que um dia, finalmente, vais perceber que nunca estarás pronto.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

(mas eu sei que não estou)

Eu nunca vou entender porque a gente continua voltando pra casa querendo ser de alguém, ainda que a gente esteja um ao lado do outro. Eu nunca vou entender porque você é exatamente o que eu quero, eu sou exatamente o que você quer, mas as nossas exatidões não funcionam numa conta de mais... Mas aí, daqui uns dias.... você vai me ligar. Querendo tomar aquele café de sempre, querendo me esconder como sempre, querendo me amar só enquanto você pode vulgarizar esse amor. Me querendo no escuro. E eu vou topar. Não porque seja uma idiota, não me dê valor ou não tenha nada melhor pra fazer. Apenas porque você me lembra o mistério da vida. Simplesmente porque é assim que a gente faz com a nossa própria existência: não entendemos nada, mas continuamos insistindo.

Tati Bernardi

(depois de ter lido aqui)



sexta-feira, 18 de setembro de 2015

e, como um adolescente, tropeço de ternura por ti

começo a reparar na forma despenteada do teu cabelo mal sais do banho; as tuas costas curvadas sob um comando de consola; a tua nuca onde desejo sempre passear os meus dedos; decorei a tua maneira de pegar no telemóvel, numa caneta, num garfo; começas a rir genuinamente ao pé de mim; partilhamos horas na mesma cama, mas não nos tocamos (será medo? será receio?). continuo a querer o teu corpo dentro do meu como tenho querido desde há meses. ainda escrevo as mesmas palavras nas mesmas páginas brancas. nunca pensei que fosse possível voltar a apaixonar-me desta forma. tão platónica, inconsciente e desesperadamente.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

insatisfação

querer sempre um pouco mais de ti
pode e vai
dar cabo de mim

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

looking for you

algo
[alguém]
me diz que o lugar do universo
é tão existencial quanto a tua localização

a luz repousa ausente
[apagada]
enquanto me dispo
e os lençóis cobrem o meu corpo nu
descubro que na imensidão
na total grandeza
já não estás no meu corpo
[não tanto]
mas em tudo para além da carne
dos ossos, da pele, do sangue

e por aí ficas a explorar
todos esses lugares secretos que jurei
não deixar ninguém tocar sem as tuas mãos