sexta-feira, 24 de julho de 2015

um ca(c)to que morre à sede

mas eu não te deixo ficar

não mais

vais e levas contigo todas as recordações
levas contigo o passado que não chegou a vincar
deixas comigo a dor da insistência
do não-esquecimento
da tentação
e das tentativas

e no meu corpo fica um fio de saudade
um fio que por vezes se torna corda e estrangula
aperta o peito e o pescoço
e nas outras vezes quase rompe
desfaz-se tão fino que mal se vê
(mas está lá)

mas não mais

não te deixo ficar

não quero arder, não quero congelar
não quero ficar a pensar em ti enquanto finjo que durmo
não quero ter-te pela metade enquanto sou tua por inteiro

não sou eu
nem serás tu

hás de entender um dia

eu fui tudo

e do nada que me fizeste

há de sobrar sempre

um todo muito completo

disposto a abarcar o mundo


(só não o teu)



4 comentários:

  1. Nunca pela metade, evidentemente.
    Muito bom!

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  2. O nosso tempo é demasiado curto, para ser dispensado com gente que se perde num labirinto solitário, sem se dignar a entregar-nos a outra ponta do novelo.

    Extraordinária AM!

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  3. Quem escreve e sente dessa forma nunca será metade ou vazio :9
    muito bonito.

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